O último post

Este blogue, que já me trouxe muitas alegrias, risadas, me expôs, já me deu problema, provavelmente já tenha levado alguma reflexão à vocês (ou alguma risada), e que possui um nome extremamente brega (mas cheio de boas intenções – das melhores, diria!), encerra suas atividades na data de hoje, 29 de março de 2011.

Após longos períodos de falta de postagem, não mais reconheço este espaço, que sempre me foi de tanto apreço, como sendo algo que continua fazendo parte de minhas entranhas.

Aqui, visceralmente, sempre foi um lugar de abordagem da minha visão sobre o que gosto, e, se por acaso não foi/era como queria que fosse, ou que não tenha levado o rumo que era pra ser (ou que tenha, quem sabe?), ficam duas coisas das quais me orgulho muito: os amigos que fiz, e, como era a proposta inicial (pra mim, nunca deixei isso claro, aqui), nunca falei mal de nada, ou fiz propaganda negativa sobre alguma coisa.

Já reclamei, claro, sou humano.

Peço desculpas se decepciono alguém, e também àquelas pessoas que ficam a me mandar e-mails perguntando quando o blogue voltará a ser como era. Este blogue nunca voltaria a ser como antes. Não sou mais o mesmo que começou a escrevê-lo.

Nunca imaginei quando este dia chegaria, nem o quão difícil seria, mas, como uma pessoa que odeia despedidas, não poderia ser diferente a tristeza que preenche meu humilde ser.

Desde o primeiro mês de sua existência, digo que um dia iria encontrar com você e apertaria sua mão. Se isso ainda não aconteceu, não se preocupe, é mais breve que o que parece.

Finalizar este blogue (que continuará no ar, só não mais escreverei nele) não significa que que fonte secou ou nunca mais voltarei a escrever: posso até fazer, mas não aqui! Teria que fazer um outro espaço, mais a minha cara, mas a ver com o atual ‘eu’. Não me sinto mais (talvez nem nunca tenha me sentido) ‘coração de poeta’.

Meu desejo era que meu último post neste lugar fosse igual a ‘Última crônica’ de Fernando Sabino: ‘pura como um sorriso’. Infelizmente não é assim que me despeço.

Deixo meu profundo agradecimento à todos que sempre me deram forças, elogiaram, criticaram, divulgaram, ajudaram a crescer, e que participaram de alguma forma: muitíssimo obrigado! Sem vocês, ‘eu nada seria’.

Olha, gente, pode parecer mentira, mas meus olhos se enchem de lágrima neste exato momento. Porém, é preciso.

Que Deus ilumine o caminho de todos nós, e que nos encontremos em breve.

Corro o risco de parecer piégas (ou até ser), mas não há tradução melhor para o momento:

Adeus, amor, eu vou partir
Ouço ao longe um clarim
Mas, onde eu for, irei sentir
Os teus passos junto a mim
Estando em luta, estando a sós
Ouvirei a tua voz

A luz que brilha em teu olhar
A certeza me deu
De que ninguém pode afastar
O meu coração do teu
No céu, na terra, aonde for
Viverá o nosso amor

E aqui, onde sempre foi um espaço que sobrou reticências, termino com um ponto final.

29/03/2011 at 09:26 12 comentários

despedida…

acabo de ver um casal se despedindo no sinal de trânsito: ele pra atravessar, ela continuaria… trocavam beijos e mais beijos, e lá ficavam… sinal abria, sinal fechava, e lá continuavam…

lembrei-me do meu primeiro namoro…

e também lembrei que hoje me despeço de um ciclo, de uma fase, e entro em um mundo novo…

primeira vez que piso nesse ambiente, com o peso que os anos me deram…

a parte ‘boa’ é fechar o ciclo, pois foi penoso e desgastante… ’10 anos em 1′ [na proporção]…

bom, preparado pro que lhe aguarda?

– sim! manda entrar e pode trazer!

um mundo novo, imaginativo, imagético, paciente, atemporal, e o que mais for necessário, aí vou eu!

23/03/2011 at 21:15 4 comentários

os aéreos voadores…

Era o álibe perfeito:
De dia, um casal de acrobatas,
No soturno da noite, gatunos…
Quem poderia imaginar?
Aquele casal que recheava sorrisos,
Seja de criança, velhos, adultos…
Até do mais chato dos adolescentes…
Por baixo daquela roupa roxa,
De algodão com elastano,
Com ‘AV’ emblemado no peito, em amarelo,
Máscara nas faces, acrobacias e malabares,
Encontravam-se os ladrões mais procurados do país!
A busca por aventura e adrenalina,
Uma constante na vida do casal,
De brincadeira a profissão,
E hobby!
Pois assaltar confres de banco,
Os maiores e mais ricos,
Era farra!
Os ‘Aéreos Voadores”,
Assim se autodenominaram.
Um namorico na escola de circo,
Parceiros de profissão,
Sucesso itinerante, ladrões de banco!
Decididos a se aposentar, aproveitar o sucesso dos picadeiros
E curtir o lucro dos bancos, se prepararam para sua última apresentação:
De dia, um show como nunca fora feito,
De noite, o assalto do século!

(Texto inacabado)

este texto foi inicialmente escrito na data de 22 de dezembro de 2009… por falta de (sei lá se realmente foi a tal da) inspiração, não continuei… mas esse trechinho, mesmo, que está aqui, era de tanto agrado meu que resolvi postar dessa forma… o ‘final’ fica a cargo dos leitores…

14/03/2011 at 10:19 1 comentário

sem atribuições…

O Que Tinha De Ser

Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh’alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser

13/03/2011 at 20:19 2 comentários

O Tempo

3 Meses

Estava de férias. Bebia todos os dias. Em locais diferentes. Estava cansado de trabalhar e havia pouco tempo que tinha saído de um relacionamento. Queria saber de ‘pegação’. Passou uma semana e nada de pegar inguém, em equilíbrio, 7 dias bêbado. Naquele dia tinha que maneirar: não pra pegar alguém, mas precisava ficar sóbrio, ou ia beber todas as minhas férias e não me lembraria de tudo. Foi quando a vi: morena, cabelos desgrenhados e cheios de estilo, pouco mais de um metro e meio (o que pra um cara da minha altura, 1,70, é de ‘pegar no colo’), blusinha de alcinha, saiote riponga, e ainda assim consegui ver o quanto ela era gostosa! Quando avistei de novo estava me dando mnole, mal podia acreditar naquilo. Arrumei uma desculpa qualquer e fui falar com ela. Fomos ao balcão e pedi um Mar em Chamas, drink docinho, estava disposto a arrastar aquela moça pra casa. E hoje, 3 meses depois, lembro de ter tido a melhor foda da minha vida.

6 Meses

Se tem algo que odeio é brigar. Cara, faço de tudo pra num ter briga. Impressionante como me falta tempo pras minhas coisas. Namoro há 6 meses com a Larinha e tá foda. Parece que sou a solução pra todos os seus problemas, e o pior foi que criou uma dependência de tal forma que tudo é motivo pra me ligar: acho que esqueceu como se pensa. Mas é bom ter alguém, num geral a gente ri muito. Acho que um relacionamento é assim, mesmo: depois que passa a ’fase do tesão’ vem essa coisa do companheirismo. O que realmente não gosto são dos compromissos que tenho que ir que não fazem parte do meu ciclo social. E as festas em família? Ô, saco! Ter que ficar rindo pra todas as piadas sem graça da família dela é dureza, viu? Mas não me vejo sem ela, mais.

1 ano

Um ano: quem diria? Era apenas uma ‘foda’ em um bar. Maldita mania em ficar me apagando às pessoas. Mas estamos juntos, isso que importa. Cansei de só ceder e não receber nada em troca, agora as coisas mudaram. Resolvi me livrar de todo e qualquer compromisso para com seus familiares: que caceta tenho a ver com o batizado da sobrinha? Tenho mais tempo pra mim, saio mais com meus amigos, até futebol, que nunca suportei, é um bom motivo pra encontrar os caras, estava com saudade deles. Quando sinto que vou me atrasar pra qualquer coisa, já levo um bibelô e fica tudo certo. Continuo sendo o mesmo que odeia discutir pelos mesmos motivos, mas a vida é assim, né?

3 anos

– Fala, Carlinhos, beleza? Então, rapaz, estou aqui, te ligando, pra te convidar pra minha festa! Não, que noivado o que, ‘tá maluco? Minha festa de aniversário, cara! ‘Tô fechando naquele barzinho que íamos, saca? Se lembra onde conheci a Larinha? Então… Rapaz, e naquele dia eu queria ficar sóbrio, né? Antes tivesse enchido a cara e não teria esse encosto na minha vida! Ah, agora ta com uns papos de casar, anel… ‘Tô pra isso não, cara, num rola. Já me enche morando há duas ‘estações’ de mim, imagina ali do lado, todo dia, toda hora? ‘Tô fora! E seguinte, na festinha é só você, tá? Num pode levar a Rê, não… Tô querendo relembrar só os camaradas… Ah, quem sabe, né? Hahahaha! O que mai stem por lá são moças solteiras à procura… Hahahaha, combinado, então!

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A história é sempre a mesma: só mudam os nomes dos protagonistas

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Este texto surgiu de um convite: uma amiga muito querida, a Juliana Santos, pediu pr’eu fazer a ‘versão masculina’ da históra dela e aceitei o desafio. Aqui está a ‘versão feminina’.

há tempos sem postar nada, né? mas as coisas vão mudar… prometo!


05/02/2011 at 18:25 5 comentários

um sonho qualquer…

Só um parênteses aos leitores: esse conto apareceu em forma de sonho. Os nomes foram trocados para proteger os envolvidos, mas a situação foi (não exatamente, porque, geralmente, não nos lembramos ipsis imago dos sonhos) assim. Uma vez tive um sonho horroroso, que envolvia a Rua do Livramento. Nunca havia estado lá. Um dia, quando fui imprimir um tablóide na sede do Jornal do Commércio, adivinhem? O local do meu sonho. E, ah! Esta crônica a seguir não aconteceu ontem à noite.


A que ponto pode chegar a dúvida, o carater e a hombridade de um ser humano, mesmo sem olhos, de paixão, para preservar a confiança e a identidade de pessoas pelas quais, talvez, não movam um centímetro de mudança em sua existência?

Este caso aconteceu comigo, ontem à noite, quando estava a passear, por volta de duas horas da manhã, levemente alcoolizado (de verdade – 4 latinhas, apenas), por uma antiga rua de ladeiras. Não consigo me recordar onde era, mas com certeza, familiar a minha memória. Pode ser uma rua de um país qualquer, em qualquer lugar. Esta forma humana fatalmente se lembrará no dia que passar, mais uma vez, por essa ruela.

Sentados estavam ela {que maravilha de mulher! Pouparei a maioria dos comentários, tal qual sua roupa, sua posição, seu sorriso (Uma inspiração! As parcas vezes que pensei em acabar com o fio de minha vida, lembrei-me que me privarei dele: o desejo cessa), entretanto, um é mais que uma necessidade fazer: seus cabelos estavam presos [como a vez que a conhecera]} e o mequetrefe, em uma mesa de bar, bebendo a minha cerveja preferida [justo quem, que não bebe(ia)], fazendo pose de machão, firmando a voz. Reconheci aquela imagem. A moça estar acompanhada, ruim, claro, não queria ver, mas, coisas da vida: ou tenha atitudes mais firmes, ou empenhe-se mais, ou melhore como humano e seja mais interessante, mais forte, mais bonito, sei lá. Então, o incômodo (maior) não foi vê-la com alguém, e sim, com o ‘quem’.

O momento em que as idéias casaram com a memória e tudo o que, a priori, era sentido total (vide exemplos do parágrafo anteior), ficou fosco. Como aquele ser poderia estar com ela? Com ‘ela’? Logo ‘ela’? A ‘ela’? Com tanta gente no mundo, quem foi o maestro que fez da mais bela e promissora sinfonia, a piada mais sem graça que, até então, eu presensiara?

Este é o momento em que os leitores ficam se perguntando se era algum desafeto do passado, se era um dos mais feios (e/ou burros) já visto na vida, um ex-chefe (ou o atual), mas não. Simplesmente, não. Era o ex-namorado de um amigo meu. Além de está ‘pegando’ a mulher dos meus (atuais) sonhos (na verdade, desse), ainda é viado.

Quando namorava meu amigo, ia me apresentar uma aí, e uma outra e outra acolá. Nada aconteceu. E, como mundo é redondo e dá voltas, estava urubuzando quem não deveria.

Irônico, não?

Aquela mulher toda, encantada, com aquele borrabotas (Merda de Reforma Ortográfica – Professores: deleiteiem-se).

Prestei-me a um papel que nunca foi o meu, mas precisava ver aquilo de perto. Quando me virei para o lado a falar com o camarada que estava comigo (à procura de um lugar interessante para sentar e tomar as outras cervejas que merecíamos), sabe-se lá como, já tinha evaporado – potes e mais potes para ele, preocupações maiores acabaram de aparecer.

Fingindo estar distraído, entrei no bar parecendo que ia comprar cigarro e fui recebido com ‘aquele (descrito no início)’ sorriso:

– E aí? Tudo bom? Você por aqui?

Me fazendo de surpreso:

– Ih! Você! Tudo bem, cara, graças a Deus… E você? Na paz?

Recebi um abraço, como de praxe, e fui ‘apresentado’ ao meu algoz, que outrora se fazia de meu ‘melhor amigo’. Era a minha hora de desmacará-lo.

– Esse é o Tom Charles – Safado! – Tom, esse é meu amigo.

Estendeu a mão a me cumprimentar, olhou-me nos olhos e ‘Plim!’. Viu que me reconhecia. O moreno ficou pálido, esquálido. Impronunciou um ‘prazer’ com medo nas pupilas. O canalha achou que iria entregá-lo.

Tenho mãos pequenas, não são de pianista. Não sei o nome de quem me deu as forças, mas estas pequenas, que estão a digitar, acabaram com a mão do sujeito.  Nunca vira aperto como aquele. Foi o mesmo que apertar manteiga mole. Como o garotão não estava afim de parecer uma mocinha perante a moça, não perdeu a compostura. Continuou fingindo ser o mais macho dos machos, e voltou a sentar.

– Puxa! Que coisa, não? Encontrar vocês por aqui! E só vim comprar cigarro.

O medo rondava aquele ser:

– Então vai lá… É logo ali, no balcão… A gente te espera…

– Eu sei onde é – Não poderia ser grosso com ele, né? Não dava para desmascará-lo de supetão. Tinha que amaciar a menina, igual meu amigo, ex-namorado do calhorda, fizera comigo, anos atrás, ao me dizer que era casado e pai de um rapaz (metido a ‘pegador’), pouco mais novo que a gente – mas se quiser comprar pra mim, está aqui o dinheiro… Já que vocês estão bebendo aí, e posso ver pelas garrafas, já há um tempo, coloco o papo em dia aqui, com minha amiga. Quebra essa pra mim?

Olhou pra ela, que, mostrou-se extremamente receptiva… Mais até do que deveria:

– Deixa que eu vou! Se lembra que eu tava te devendo o ônibus daquele dia? Pago pra você. Marlboro vermelho, né?

Fazer o que, gente?

– É, é sim…

Dirigiu-se ao balcão com seu balançar ímpar… A singularidade do movimento de seus quadris estava me tirando a concentração e a voz do biltre atrapalha os meus desejos mais íntimos:

– Então, tudo bem? Quanto tempo… Como está o…

– Peraí, peraí, peraí… Não vim aqui pra falar de ninguém! O que é que… (sinto um vulto pequeno e cheiroso ao meu lado) … você estão bebendo? Antarctica? Putz! Tava tomando uma ali, ainda pouco, mas tava tão quente!

– Ué, bebe uma aí com a gente.

– Ôh, fofinha (ah, porra! foi a primeira coisa que me veio a mente!), não quero atrapalhá-los…

– É, ele não quer atrapalhar…

– Ah, não! Ué, e num vai atrapalhar, não…

– Já que insiste! – 1×0 pra mim.

– Antes eu vou pegar uma aqui. – E foi eu me virar, pro descarado olhar pra trás, balbuciar qualquer palavra no ouvido da moça e elá estavam os dois, rindo, mãozinha na boca/cabeça pra trás. Que raiva! 1×1.

Meu celular toca. É o cornutto do meu amigo:

– Onde tu ‘tá, cara?

– Pô, desci, vim comprar cigarro, onde você ‘tá?

– Caceta! No bar onde você me deixou…

– Ih, é! Aquela gostosa ‘tava aí, né? E aí, voando muito, acima? (Não faço idéia do que ele quis dizer) Hahaha…

– Rapaz… Para com isso que ela pode ouvir.

– Ah, foi mal… Esqueci que ela tem ouvido biônico e pode ouvir o que o orifício auricular do seu celular está reproduzindo, pensando bem, é melhor eu parar de pensar, né? Vai que agora ela lê pensamento, também?

-…

– Ó, fique sabendo quem em 10 minutos tem final do Mundial hoje, ‘tá afim? É no clube aí perto…

– Pode ser… Te ligo pra confirmar…

– Cara, minha bateria vai acabar agora, vamos marcar ali em fren…

– Frente da onde?

-…

– Alô?

– …

– Alôôôôôôôôôô?! – Já era…

‘Oi gente, vamos ver a final?!’, não… Fraco… Eu não iria… Vamos rever… ‘E aí? Puuuuuuxa! Fique sabendo d’a booooa’ d’agora! Vocês não vão acreditar!’, empolgado demais… Caraculetas! Como se chama alguém pra ir a uma final de Vôlei escolar, às 2:45 da madrugada, no clube ao lado do bar? Olho para trás e o patife está levantado, abre a carteira e deixa 50 reais em cima da mesa, ajuda a moça a se levantar (‘Cretino!’) e rumo ao meu contrafluxo estava a levá-la, quando ela virou-se e me chamou:

– Ué, você não vem?

– Não sei… Vou? Pra onde?

– Estamos indo na final de vôlei dos alunos dele, no colégio aqui ao lado. Não é por isso que você está por aqui?

– Claro! É que a cerveja quente me deixou meio esquecido, vamos, vamos sim, claro…

E o pusilânime:

– Cerveja quente não é muito legal, uma vez eu bebi um vinho e fui pra praia, nossa! Passei tão mal! E a quadra lá do colégio é tão quente. É melhor você ir pra casa, não?

Olho pra doce menina (ãhn?!) e fez cara de ‘Puxa! Não vai não, fica com a gente!’. Mas, nossa! O que passou pela minha cabeça em ir embora? Óbvio que não. ‘Tô achando que essa cerveja quente, realmente, mexeu comigo.

– Pois é, né? Sabe? Vou arriscar. – 2×1

O frouxo fez cara-de-bunda e, a caminho da porta aos fundos do bar, fomos.

Ela dava para o meio da quadra! Uma gritaria, confusão, 3 mil crianças, gritando, pulando, soprando cornetas, lançando serpentinas, confetes, ‘passou, passou, passou um avião, e nele estava escrito…’, o apito do juíz, as crianças grandes jogando na quadra, um calor dos infernos, 5 ventiladores de parede (sendo que 3 parados), um placar eletrônico (Olha!), música ambiente no intervalo, correria, ‘tias’ vendendo cachorro quente nas arquibancadas, wow! Minha cabeça dói com esses tumultos – salvo blocos de carnaval – muita gente junta! Tenho alergia.

Ao ver minha cara de desespero, o insolente teve a audácia de dizer:

– ‘Tá um tumulto isso aqui, né? Vocês que não são da área do magistério não estão acostumados – E tirou um lenço nojento de suor do bolso e passou na testa, onde ficou mais intragável ainda, e devolveu o acessório – A gente sabe que é assim, já nem liga mais…

Ia ser o 2×2, mas, em cima do laço, consegui um 3×1:

– Cara, sou o mais velho de 15 primos, tenho 2 irmãs beeeeeem mais novas, acha mesmo que não estou acostumado a barulho de criança?

Pééééém-pééééém-pééééém!

Ela sorriu… Óh, céus! Já falei do sorriso dela?

– Gente, vou procurar o meu amigo, tá? Ele deve tá ali na cantina, e aproveito e pego uma cerveja pra gente, alguém quer?

– Eu quero!

E o sacrista (xingamento muito utilizado pelo meu avô):

– Eu também, mas você vai ter mão pra trazer todas?

– Meu amigo: com excelência! ‘Tá vendo essa bermuda aqui cheia de bolsos? – E comecei a tirar as coisas – Tem caneta, caderno, celular, chiclete, alguém quer? lapiseira, cigarro, isqueiro – Olho para ela e digo – “‘E’ de isqueiro ou ‘I’ de escola?” – Ela não se tocou no que era, ele esboçou um sorriso, mas, vendo que a moça não sabia do se tratava, para me deixar sem graça, engoliu-o, e, fingindo que não havia falado asneira, continuei nos bolsos – chave, máquina fotográfica, carregador de celular, pen drive, canudo, e você acha, mesmo, que não vou conseguir trazer 3 latinhas? Ó, ainda trago-as com um cigarro na boca – E ascendi o maldito – Pronto! Cerveja pra todo mundo.

Pééééém-pééééém-pééééém!

Lá estava eu passando pela quadra, menininhas de 15, 16 anos, cheirando carne nova no pedaço, ouriçadas pela minha presença – na verdade poderia ser a chegada de qualquer um, né? Nem bonito sou – baldes pra elas e fui para o bar, mas, olho no bar/olho na arquibancada, o desavergonhado teve a falta de compostura de tirar a camisa (a social que usava por fora) e forrar o assento para a moça – não sentaria, nunca, naquela camisa ensopada de suor, mas ela não percebeu.

Berrei um palavrão (‘Puuuultaquiiilmilpariufilhadapuuuult’ománomeiodocuviad’imeeeerda!’)! Que, misturado aos gritos das pentelhos – já estava puto, mesmo, posso descontar nos fedelhos – foi a comemoração da vitória do segundo set pro time da casa.

– Me dá três cervejas!

– Não pode fumar aqui dentro.

Pééééém-pééééém-pééééém!

– Tá – Piso no cigarro – Me dá três cervejas!

– Quinze reais.

– Pô, quize pratas?

– É, cinco reais cada cerveja: quinze reais!

– Caceta! Cinco pratas cada cerveja? – Temendo que ela perguntasse se eu tinha algum problema resolvi ser mais prático – Tá aqui, toma – E lá tinha eu que voltar de ônibus: o dinheiro do táxi viraria álcool.

– Dá 3 Itaipaaavas aíííí!

Pééééém-pééééém-pééééém!

– ITAIPAVA? A cinco reais a lata? É latão, né?

– Latão é oito reais! Tá faltando nove.

– Não, tá tranquilo, três latinhas está ótimo – Ah, mas o poltrão vai pagar essa! Ah, se vai…

Olho pra arquibancada e o frouxo, só chamando assim, pois se aproveitou da minha ausência para fazer presença, estava a passar as mãos pelas pontas do cabelo da guria. Sinto um tapa no pescoço. Finalmente meu amigo me encontrou:

– Ih, desculpa, achei que fosse um amigo meu!

Pééééém-pééééém-pééééém!

Puxa vida! Não acredito que esse cara vai ‘pegar’ essa mulher! E ainda levei uma espalmada na nuca. Mas assim, eles são professores, ela está infeliz no trabalho dela, ele está nessa escola nova, será que estou vendo além do que realmente é?

Definitivamente o que eu estava vendo era muito claro: minha cara no telão do placar eletrônico, e o Mestre de Cerimônias do jogo, no meio da quadra, que agora era de basquete (?), me chamando ao seu lado:

– Éééééé! Você mesmo! Venha cá.

Fui, né?

– Você foi o selecionado a tentar acertar a cesta! Marcando, vai ganhar a féria do bar, se não marcar, a féria vai pro Casa de Apoio São Judas Tadeu (meu santo de devoção! Embora não tenha religião). Vai se posicionar no garrafão oposto, vamos vendar seus olhos e terás uma chance, topas?

– Ué, e por quê, não?

Pééééém-pééééém-pééééém! Pééééém-pééééém-pééééém!

E todos vibraram!

A menina, e que neste caso não é mentira, do meu sonho (pois a própria está nele), também se levantou e o sacripantas, que não pretendia largá-la, sentiu-se obrigado a fazer o mesmo! Ah, nem sei mais quantos pontos pra mim.

Olhei pra ela, ascenei, ela respondeu, deram play em Let Me Clear My Throat, comecei a dançar. Minha surpresa: a arquibancada inteira começou a me imitar! Show! Cadê o malandrão agora? Não queria fazer feio, né? Estava lá, me seguindo também! Menos mal, ‘e lá vamos nóóóós!’, me vendaram, continuei dançando, não sei se continuaram a fazer igual, mas ouvia meu nome as berros!

– Você está preparado?

Nem pude responder, todos gritaram SIIIIIIIIIIIIM!!!! com veemência, quem sou eu pra negar a voz do povo? Então, se era para o bem geral do ginásio, peguei a bola e levantei o braço direito, punho fechado! Me virei para o lado do objeto (feio chamar alguém assim, né?!) de desejo, dei um beijinho com o dedo e apontei pra ela, bati a bola no chão por três vezes, dei uma respiradinha a la Hortência, me concentrei, mirei e…

Pééééém-pééééém-pééééém! Pééééém-pééééém-pééééém!

Me levantei e fui desligar o despertador, que marcava 6:20, estava na hora de ir ao trabalho, perigando perder o ônibus.

.

.

.

este texto quase não saiu… tem mais de um ano… seria uma pena, pois é de uma estima enorme, creio que foi quando o eu-lírico falou alto, tão alto, que parece ser uma opinião pessoal… e o desenho, perdi o original, mas achei uma foto: pintei-a!

29/11/2010 at 08:29 10 comentários

la nascita di Cheetah…

pra quem não sabe o que é uma collab, é um trabalho colaborativo onde 2 ou mais pessoas desprendem energia para o mesmo fim…

a nossa foi esta imagem que você estão vendo e já está em votação no Camiseteria

feita com o camarada Kenny, lá no site, mais conhecido como mkenny

conto com a ajudinha de vocês, só pra variar um pouquinho, tá? brigadão, meus camaradas…

22/11/2010 at 18:21 5 comentários

ceci n’est pas ‘les amants’…

safadamente, já que o blogue andam extremamente abandonado, conto com a sua ‘gentebonice’ e peço voto: http://www.camiseteria.com/design.aspx?did=41602

para ilustrar a imagem, uma música:

Futuros Amantes
Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

17/11/2010 at 07:23 3 comentários

1 tema, 2 poemas, 3 de novembro…

Traduzir-se
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

.

Destruição
Carlos Drummond de Andrade

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

.

estou fazendo um estudo pra um desenho e, ao achar esse poemas, embora não sejam os mais desconhecidos do mundo, não tive como não compartilhar…

03/11/2010 at 07:15 5 comentários

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Coração de Poeta


sou só um mensageiro, um profeta, contador de estórias: coração de poeta

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esperança…