mistura a três…
24/11/2010 at 09:50 5 comentários
nossa estória começa com um rapaz à beira mar, de frente pro calçadão, a observar os passantes…
a maresia da manhã mistura-se à euforia do início da noite anterior, seus pensamentos viajam 14 horas atrás… estava sentado à mesa de um bar com seu amigo, talvez o mais querido deles, e via a ‘felicidade’ nos seus olhos… alheio a ela, só queria conversar sobre um assunto:
– quero falar com você, cara…
– sobre?
– te falei que ando fazendo um tratamento, né?
– sim, sim…
– então, hoje estava falando sobre como/
– peraí, peraí! puxa! ela acabou de me mandar um sms, está com saudade… cara! você tem que conhecê-la: é linda! linda demais!
– é, deve ser… voltando: no tratamento, estava falando sobre como/
– brother, você não tem ideia do quanto estou feliz! acho que é a mulher da minha vida! mora perto de mim, independente, inteligente, bonita, fode demais… que química, que química! você tem que conhecê-la! você é meu irmãozão!
– fico feliz por você, cara…
– não me parece, sei lá, você ‘tá distante…
– estou querendo falar do tratamento e você fica/
– peraí, outro sms, deixa eu responder… ah, ela ‘tá vindo…
– faz o seguinte, então, tenho que dormir, amanhã a gente marca algo, beleza? acho que dará sol… fica bem aí…
foi embora…
lembrava de sua atitude, não julgava infantil, só não queria ficar dividindo o que não acreditava… seu telefone toca: o amigo… olha pro calçadão e vê sua silhueta, junto a uma outra feminina, provavelmente a tão falada namoradava nova…
ontem, após sua saída, veio a chegada dela… após as formalidades iniciais, começou o papo:
– então, mas ele estava com sono, acabou indo embora, disse sobre um tratamento que estava fazendo e sei lá, resolveu ir…
– vai ver esse cara ‘tá afim de tu!
– hahahahahahahaha, para com isso! ele é meu irmãozão, brother, mesmo! sempre ali, sempre junto… hahahaha…
– hehehehe, acontece, viu? você já o viu com alguma mulher?
– já… já? hum… não me lembro… já ouvi histórias, mas junto, mesmo… não sei… não consigo me lembrar… você, hein? caramba! hehehe… é psicóloga ou jornalista? hahaha…
– hum… chega uma hora que é a mesma coisa, senão puxo as informações verdadeiras, não consigo entender…
– mas me conta, como foi seu dia?
– foi engraçado… o último paciente chegou com um ‘problema’, mas, a essa altura, já deve ter resolvido…
– ih, peraí… sms do cara: tá chamando pra ir a praia amanhã… tá afim?
aquelas silhuetas ganham cor conforme se aproximam, algumas coisas começam a não fazer sentido… a maresia se funde às memórias… o que era para ser um sorriso de recepção vira um sorriso de falta de jeito… com tantas mulheres no mundo, justo aquela? questão de segundos até reconhecê-lo…
– então, já estamos na terceira sessão e você ainda não me disse o que te fez procurar terapia…
– mas nem eu sei, precisava de um rumo, as coisas estão bagunçadas, meus sentimentos estão embaralhados, as confusões… sei lá…
– tem algo, aí dentro, que você não me disse… quer dizer? se sente a vontade pra expor? tudo o que acontece nesse consultório fica aqui…
– é que não tenho certeza… é doido demais, porquê sempre imaginei uma coisa, e tá virando outra… talvez no fundo eu sempre soubesse, mas fazia de tudo para ir contra… mas não consigo mais…
– então: o que é?
– estou apaixonado pelo meu melhor amigo!
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Entry filed under: Capa, Contos / Crônicas, Revista CDP. Tags: casal, casamento, caso, confição, gay, homossexual, homossexualidade, homossexualismo, ménage à trois, mistura a três, namoro, pscólogo, psicologia, terapia, viada a dois, vida, vida a três.
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1. Kátia | 24/11/2010 às 14:38
Vc escreve muito bem !!! parabéns!
2. jeronimooo | 24/11/2010 às 15:10
Cara, que demais!! Sério mesmo, foi um puta “mind blowing” esse texto!! Que esse seja o primeiro de muitos desse seu retorno às letras!! Abraço!!
3. rogeriomarcal | 24/11/2010 às 20:08
Adorei o texto, super bom. Bom demais mesmo. =)
Às vezes nos calamos, outras vezes queremos falar e somos negados a isso, outras tantas vezes somos assuntos desinteressantes… e aquilo que nos toca o coração fica de lado, não dito, não compartilhado, partido por não se poder sentir.
Adorei, meu amigo. =)
4. Renata | 24/11/2010 às 21:16
Adorei! Demais! Tão…demais! rs…bju
5. Náshara | 25/11/2010 às 19:41
Aleluia irmãos! O coração de poeta ainda bate!